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Conhecido por desmascarar números do IRB, Aché, da Squadra, conta por que vê bancões hoje em situação frágil

Sócio fundador Guilherme Aché fala sobre carreira, processos de investimento e bastidores do caso IRB no 19º episódio do podcast Outliers

SÃO PAULO – Qualquer brasileiro com um pouco mais de idade guarda na memória afetiva a lembrança das vitórias do piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna nos domingos de manhã, em muitas delas com um boné azul do Banco Nacional na cabeça.

Na época, início dos anos 1990, o gestor Guilherme Aché, sócio fundador da Squadra Investimentos, ainda dava os primeiros passos no mercado financeiro, e fez uma aposta alta nas ações do banco.

Com o lançamento do Plano Real e o fim da inflação, quase que de uma hora para outra diversos bancos médios, como o Nacional e tantos outros passaram a enfrentar grande dificuldade para se manter no azul, o que fez Aché perder bastante dinheiro com a operação.

Entre as diversas lições extraídas do evento, uma das principais foi não confiar 100% nos balanços contábeis das empresas. “Tinha fraude gigante no balanço [do banco Nacional]”, contou o especialista, no 19º episódio do podcast Outliers, apresentado por Samuel Ponsoni, analista de fundos da XP.

Com cerca de R$ 14 bilhões sob gestão em ações, a Squadra ganhou os holofotes em fevereiro de 2020 justamente ao questionar, em relatório de quase 200 páginas, os números da resseguradora IRB, até então uma das empresas “queridinhas” dos investidores.

Na conversa, na qual detalha como foi a atuação da gestora no caso IRB, Aché passou sua receita para encontrar uma posição short (vendida, isto é, com aposta na queda) perfeita na Bolsa: a combinação de um negócio ruim, gerido por pessoas incompetentes, alavancado financeiramente, com fraude nos balanços e os preços altos das ações.

“Foi uma operação short muito óbvia”, disse o especialista em referência à posição vendida na resseguradora, que contribuiu para a alta de 12,1% do Squadra Long-Biased FIC FIA em 2020. O fundo passou a ser oferecido recentemente pela XP, assim como o long only da casa, que rendeu 5,1% no ano passado.

De março de 2008, data de criação dos dois fundos da casa, até dezembro de 2020, a valorização chega a 730%, no caso do long bias, e a 780% no long only, contra 215% do CDI e 95% do Ibovespa no mesmo intervalo, segundo dados da Economatica.

O gestor disse que considera a dedicação para encontrar teses de investimento para compor a carteira “vendida” um importante diferencial da Squadra, em um mercado de gestão de investimentos que avalia ser extremamente competitivo por permitir ganhar dinheiro rapidamente.

E todo o esforço que envolve a construção de uma tese de investimento que aposta na queda de determinados ativos, ressaltou o gestor na entrevista, é muito diferente em comparação àquele para montar posições “compradas” (que apostam na alta das ações). “É um trabalho muito mais de detetive”, afirmou Aché.

Na entrevista, o especialista contou ainda que uma das apostas relativas que carrega no portfólio já há algum tempo é vendida em grandes bancos de varejo e comprada justamente naquelas empresas que Aché acredita que devem ganhar participação de mercado deles, como XP e BTG Pactual.

“O preço dessas empresas [XP e BTG Pactual] não parece ser muito barato, você de fato tem que acreditar que esse movimento de longo prazo vai acontecer”, disse o especialista, em referência ao rouba-monte de parte da rentabilidade das tradicionais instituições financeiras pelas plataformas digitais, que Aché considera estar apenas no início.

Foi no então Pactual, no qual o fundador da Squadra iniciou a carreira há cerca de 30 anos, que ele teve a oportunidade de trabalhar com nomes como André Jakurski, da JGP, e o hoje ministro da Economia Paulo Guedes, dupla com quem viria a trabalhar novamente na JGP.

Do aprendizado que carregou quando decidiu montar a Squadra no fim de 2007, Aché cita desde as premissas básicas para tocar com sucesso um negócio de excelência no dia a dia, como manter um time extremamente qualificado, motivado e complementar, até a preocupação primordial com a preservação de capital dos clientes.

“Quem não toma risco conta a história dos outros”, disse o profissional, sobre a filosofia que o levou a optar pelo empreendedorismo.

De todo modo, para suprir a falta que mentes brilhantes como a de Jakurski e Guedes naturalmente fazem na gestão dos investimentos para qualquer instituição, o fundador da Squadra aponta uma intensidade muito maior na análise micro dos negócios, com cerca de 25 analistas que ficam debruçados sobre um universo de 130 ações da Bolsa brasileira.

Para conferir mais sobre o processo de investimento da casa e suas maiores convicções na carteira comprada, que tem nomes como Petrobras e Grupo Mateus, bem como o mea-culpa de Aché sobre uma atuação que reconheceu aquém das expectativas na pandemia, confira o episódio completo e os anteriores do Outliers pelo Spotify, Deezer, Spreaker, Apple e demais agregadores de podcast.

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