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Candidatos à presidência da Câmara contam votos e avaliam queda na popularidade de Bolsonaro

Grande parte do suspense sobre a eleição da Mesa da Casa deve-se ao fato de o voto ser secreto, o que dá margem às chamadas "traições"

BRASÍLIA – Com uma semana decisiva pela frente, os principais candidatos à presidência da Câmara – Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP) –, intensificam negociações, contam votos e monitoram a piora na popularidade do presidente Jair Bolsonaro, em um cenário que ainda tem uma boa carga de indefinição.

Grande parte do suspense sobre a eleição da Mesa da Casa deve-se ao fato de o voto ser secreto, o que dá margem às chamadas “traições”. Além disso, não deve ser desconsiderada a tendência dos deputados de deixarem a decisão para os últimos instantes antes da eleição, marcada para 1º de fevereiro.

“O que a gente tem visto até o presente momento é que há uma tendência favorável ao Lira, mas a gente identifica também que muitos deputados vão deixar para decidir aos 45 do segundo tempo, para ver quem garante efetivamente as promessas que tem feito, sobretudo pelo fato de que nas últimas semanas o governo tem sofrido muito com os equívocos na gestão da pandemia, a situação toda em Manaus tem cobrado um preço do presidente”, avaliou o consultor de risco político e CEO da Dharma Politics, Creomar de Souza.

Lira é encarado como o favorito na disputa, tendo conseguido o apoio da maioria dos integrantes do PSL e do PTB na última semana, além de contar com a preferência da maior parte dos integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

Há quem considere, caso de um parlamentar que acompanha de perto as movimentações do candidato, que a situação já implique em um “game over” para Baleia.

As estimativas desse deputado dão conta de quase 300 votos para Lira, acima dos 257 necessários para garantir a eleição já no primeiro turno de votação. O líder do chamado “centrão”, com o apoio declarado do presidente Jair Bolsonaro, tem investido em uma intensa agenda de viagens a Estados para ouvir dos parlamentares suas demandas locais.

Baleia, por sua vez, também vem tentando dar ritmo à sua campanha, lançada no fim de 2020, bem depois de Lira. O emedebista utiliza como estratégia a tentativa de deixar claro que Lira é o candidato de Bolsonaro, reforçando o discurso já adotado pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), articulador da candidatura.

Por isso mesmo, o apoio angariado pelo deputado do PP pode sofrer os efeitos da queda na popularidade de Bolsonaro verificada por institutos de pesquisa na semana passada, diante da crise da falta de oxigênio no Amazonas, além da polêmica em torno das vacinas e de seus atrasos.

A partir desse pano de fundo, o ânimo popular será acompanhado de perto pelos parlamentares para firmarem posição. No fim de semana, diversas capitais do país tiveram manifestações contra o presidente.

Na segunda-feira, pesquisa XP/Ipespe apontou uma piora tanto na avaliação do governo como na percepção da atuação de Bolsonaro no combate à crise do coronavírus. A fatia dos entrevistados que consideram o governo “ruim” ou “péssimo” passou de 35% para 40%, enquanto os que consideram o governo “ótimo” ou “bom” saíram de 38%, em dezembro, para 32%.

Levantamento Datafolha divulgado na sexta-feira também registrou piora na popularidade do presidente. Enquanto os que consideram a gestão Bolsonaro ruim ou péssima partiram de 32% em dezembro para 40% neste mês, os que a veem como ótima ou boa passaram de 37% para 31%.

“Esse elemento tem feito com que algumas posições que talvez fossem colocadas de forma mais precoce em outra situação, hoje têm sido postas mais sutilmente, os parlamentares têm sido mais discretos na manifestação de apoio aos candidatos do presidente”, acrescentou Creomar.

Ainda que indefinido e com algum tempo pela frente para surpresas, o retrato do momento registra vantagem de Lira. Baleia tem de lidar, por exemplo, com as divisões dentro de partidos que no final de 2020 declararam-se favoráveis à sua candidatura.

Pelas regras regimentais, a formalização desse apoio por meio da constituição de blocos partidários só ocorre diante da concordância da maioria dos integrantes de cada bancada. É por isso que Lira declara ter mais que a metade dos votos do PSL e do PTB.

Baleia enfrenta rachas no próprio Democratas, de Rodrigo Maia, e até mesmo em partidos da esquerda.

No caso do DEM, há um mosaico de fatores que direcionam diversos de seus integrantes a um apoio a Lira, seja o custo político de integrar formalmente um bloco do qual o PT faça parte, seja por falta de diálogo com o próprio Maia, ou ainda por identificação ideológica com pautas de Bolsonaro. Há ainda os deputados ligados a ministros do partido, Tereza Cristina, da Agricultura, e Onyx Lorenzoni, da Cidadania, dispostos a votar com o governo.

Já no PT, a resistência paira em relação ao MDB, partido do ex-presidente Michel Temer, a quem petistas creditam parte da articulação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, entre outros pontos.

Há ainda questões pragmáticas em outros partidos da esquerda, caso do PSB e do PDT. Parlamentares desses dois partidos tiveram reuniões com o governo, que acionou suas comportas e acenou com emendas.

Mesmo entre partidos do espectro mais à direita, que oficialmente apoiam Baleia, há aqueles que se identificam com bandeiras do governo, caso dos deputados ligados ao agronegócio e a bancada evangélica.

Duas fontes avaliam que Lira assume o apoio do Planalto quando lhe convém, mas não o utiliza como uma constante, deixando ao principal adversário a tarefa de colar nele os eventuais arranhões na imagem de Bolsonaro.

Para essas duas fontes, também prevalece a percepção que o líder do centrão não tem entre suas prioridades a pauta de costumes do bolsonarismo e também não servirá de blindagem a eventual impeachment de Bolsonaro, caso a situação se torne insustentável.

Essa também é a visão do CEO da Dharma Politics, para quem não há, no momento, ambiente para o início de um processo de impedimento do presidente da República. Creomar, assim como uma das fontes consultadas, não descarta algo nesse sentido mais à frente, a depender da degradação da imagem de Bolsonaro.

“Longe de ter um clima para a abertura de um processo de impeachment entre os deputados, há nitidamente um preocupação com o efeito do silêncio do apoio a Bolsonaro junto às bases se o governo continuar derretendo à véspera de um ano eleitoral”, avaliou.

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